Transiberiano II – De Ulan Bator a Moscovo
Há que confessar que a parte mais aventureira aconteceu na primeira parte deste artigo, aqui. A partir daqui seguimos o percurso mais normal. Aquele que é expectável. Fazer o transiberiano de comboio.
Chegámos a Ulan Bator!!
Assim que chegámos ao hostel, pelas 9h15, vimos um papel no quadro de cortiça de um casal de hóspedes a dizer que estavam interessados em fazer uma day trip e que procuravam pessoas para dividir o preço. O máximo era 3 pessoas por jipe mas acederam a irmos os 4. Disseram-nos que se a polícia nos mandasse parar poderíamos ter de pagar uma multa que iria depender do mood do polícia mas que não costumava acontecer muito. Arriscámos, despachámo-nos em 10min e seguimos directas para um dia de viagem. Parar é morrer! Mesmo depois de 15h de comboio! O casal era brasileiro já viajava há alguns meses pela Ásia e por isso falámos imenso com eles para pedir dicas.
A província de Ulan Bator onde ficámos a dormir estava a passar por obras profundas e por isso não tinha água quente porque não havia gás. No Danista puseram um termoacumulador num dos quartos e podíamos ir tomar banho lá.
Ajudaram-nos também a ver a melhor maneira de seguir para a Rússia. A mais barata e rápida era ir de autocarro até Ulan-Ude. Para ir até à estação de autocarros no nosso caso bastava sair do hostel, virar à esquerda e ao chegar à avenida principal, em frente ao Ramada, apanhar o 3. Após 9 paragens saímos no Dragon Center onde se compram os bilhetes. Se estiverem na Sukhbaatar Square podem apanhar o 1 e são cerca de 12/13 paragens até à estação dos autocarros. Irei falar sobre a nossa estadia em Ulan Bator e o que há para fazer lá num próximo artigo. 🙂
Como ir de Ulan Bator para Ulan Ude?
A certa altura entrou uma senhora no autocarro para trocar o dinheiro da Mongólia por Rublos. Aconselho a guardarem cerca de 10-12 mil tugrik para almoçarem porque o autocarro pára para almoço ainda na Mongólia.
Passar a fronteira foi simples, embora tenha lido que poderia demorar horas. O nosso autocarro não ia muito cheio e por isso foi bastante rápido. No autocarro conhecemos um rapaz da Costa Rica que acabou por nos acompanhar o resto do dia quando chegámos a Ulan Ude. Gostava de explicar como podem fazer para ir da estação de autocarro ao centro mas um senhor russo que ia ao nosso lado, deu-nos boleia no seu jipe. Foi mesmo super querido. Durante toda a viagem estava sempre atento para ver se percebíamos tudo o que estava a acontecer e embora o seu inglês fosse diminuto, gesticulava até ter a certeza que o tínhamos entendido.
Os russos têm ar de maus mas tivemos mesmo boas experiências com as pessoas. No geral sempre tentaram ajudar. O google translate teve um papel fundamental nas nossas interações.
1. Os horários dos comboios na Rússia estão sempre com a hora de Moscovo.
Isto é das coisas mais importantes a ter atenção!! Se fizerem o sentido inverso ao habitual como nós, ainda se torna mais confuso de utilizar. O importante é ter sempre noção da diferença horária dos sítios onde estão e para onde vão. O vosso bilhete vai dizer uma hora mas devem saber a hora real que devem apanhar o comboio.
2. Se vão viajar no fim-de-semana ou em época alta de turismo, comprem com antecedência.
A verdade é que queremos sempre viajar ao sabor do vento e decidir o que queremos fazer no momento. É horrível comprar os bilhetes com muita antecedência porque sentimos a viagem muito controlada. Por vezes, vai ter mesmo de ser. Se o vosso tempo for escasso e não tiverem dias que vos permitam ir com toda a calma, aconselho a comprar as coisas assim que possível. Nós fomos em Maio e por isso conseguimos sempre à medida que íamos mas do que já li, em Julho e Agosto convém ter as coisas mais organizadas. A certa altura percebemos que com o aproximar do fim-de-semana, os lugares livres eram menos e achámos importante comprar logo os bilhetes e mesmo assim, num dos casos, não conseguimos o comboio que queríamos…o mais barato de todos.
Em Ulan Ude apanhámos o nosso primeiro comboio russo rumo a Irkutsk. Esta viagem foi só uma noite. As carruagens de 3a classe chamam-se Platskart e os compartimentos têm 6 camas. Duas no corredor e 4 numa espécie de compartimento pequenino. Sempre li que o melhor era tentar evitar os lugares do corredor porque têm mais exposição mas chegámos à conclusão que preferíamos aí. Na outra parte caso fiquem em baixo e as pessoas que vão em cima queiram sentar-se, vão sentar-se na vossa cama. Se forem em cima e não quiserem estar deitados, vão ter de pedir para se sentar. A melhor hipótese quando são duas pessoas é sempre tentar ficar com uma de cima e outra de baixo porque assim conseguem sempre fazer tranquilamente o que vos apetece. Achámos a do corredor melhor porque ficámos sempre por nossa conta. Porquê?
À vontade não é à vontadinha…
Há todo o tipo de pessoas a bordo do comboio e é preciso entender que umas são mais espaçosas que outras. Normalmente chegam ao comboio e trocam a roupa para pijama ou roupa confortável e usam chinelos. É a sua nova casa por muitas horas ou dias. Uma das vezes, a maior viagem de todas, ficámos com as duas camas de cima de um compartimento com uma família. A avó que deveria ter uns 50 ou 60 anos com as duas filhas. Uma das filhas devia ter uns 10/12 anos e a outra tinha consigo os dois filhos, um miúdo de 2 anos e um recém-nascido. Não foi nada fácil. Aquilo era tudo deles. Comida espalhada, coisas para as crianças brincarem. O miúdo de 2 anos gritava a plenos plumões sem razão aparente e ninguém dizia nada. Mudava-se fraldas e dava-se de mamar imensas vezes ao dia. Não havia ali muita noção de que estavam mais pessoas por perto. Outros compartimentos chegaram a queixar-se do barulho porque a certa altura era indiscritível.
Salvou-me o spotify premium. Agradeço-me a inteligência do momento em que ainda no aeroporto de Lisboa, decidi fazer download da aplicação. De outras vezes, as pessoas queriam interagir connosco e saber mais sobre nós e até nos puxavam para perto. No último comboio fomos a animação do sítio. A tentarem ensinar-nos russo e nós inglês. A tendência foi um aumento de nível de inglês ao aproximar de Moscovo.
Evitar os fins-de-semana
Tentem evitar os fins-de-semana porque há muitos militares a bordo e tendem a ser demasiado intrusivos no vosso espaço. No nosso caso, existia uma carruagem cheia de militares a fazer todo o género de coisas. Beber vodka e cerveja, jogar xadrez e cartas ou a entoar cânticos em russo. Perceberam no bar que não éramos russas e rapidamente se sentaram na nossa mesa e nos tentaram fazer imensas perguntas. Valeu-nos o seu escasso inglês. Custou-me um pouco (confesso) mas tive de recusar todo o álcool que me ofereceram. Cada vez que passámos pela carruagem dos militares a partir daí gritavam por Portugal. 🙂 Reparámos que nessa carruagem iam alguns (muito poucos) civis o que me faz pensar que poderíamos ter calhado ali. Seria no mínimo assustador.
Fora esta altura, o bar é uma zona muito boa para ler ou traçar planos quando queremos sair do ambiente mais confuso do comboio.
As toalhitas são as tuas melhores amigas!
Foi aqui que percebemos que…a 1ª classe não tem graça nenhuma!!!
Durante o tempo que esperámos que a casa-de-banho ficasse vaga, aguardámos numa cabine de 1ª classe. Os compartimentos são de duas pessoas e tem uma porta que fecha, dois bancos, duas camas na parte superior, luzes para ler, música ambiente e até televisão. No entanto…é a coisa mais calma de sempre. Não se passa nada! Não há crianças a correr, pessoas a comer, músicas aleatórias….nada. Deve ser óptimo para quem viaja em negócios mas não lhe vejo outra utilidade no contexto em que íamos.
Contas Finais!
Conseguimos fazer a parte russa do transiberiano por 162€. Só a parte russa são 5640km. De Moscovo a Beijing são 7857 km. Incrível! Só percebi agora! No final gastámos 239€ para fazer a rota do transiberiano de Pequim até Moscovo. Se leram bem, foi uma viagem mesmo low budget. Sei que não é para todos. Com isto não quero ser arrogante. Mas sei que o meu nível de tolerância ao conforto é mesmo muito elevado e que vivo bem com pouco. Se tenho dinheiro extra, prefiro apostar na gastronomia local, por exemplo.
MissLilly
wow tenho a certeza que vai ser uma aventura para te lembrares o resto da vida e isso nao tem preco algum! Eu confesso que a minha tolerancia ao conforto, depois de passar 5 anos da minha vida em hoteis ficou mais sensivel. Mas arrependo-me de nao ter feito uma viagem assim qdo era menos “mimada” hahahahah provavelmente agora faria a mesma viagem mas pagando mais para ter mais conforto o que nao tem a mesma piada!